RAZÃO
Um dia eu acordei. Tudo
era calmo e claro. Tão claro, que eu, não conseguia abrir os olhos. A claridade
era tão acentuada, coisa que eu não estava habituado. Em minha volta, as
pessoas falavam e gesticulavam, mas, por mais que eu me esforçasse não as
entendia, para mim, eram apenas, ruídos
estranhos. A meu lado, na cama, também deitada, havia outra pessoa. Com o tempo
reconheci e aprendi que aquela pessoa me amava, pois permanecia sempre a meu
lado a acariciar-me. Meus olhos buscavam aqui e ali os desenhos e cores que
brilhavam e cintilavam, com uma beleza nunca notada e que jamais voltei a
sentir.
Senti necessidade de alimentar-me, mas,
não consegui demonstrar. Nem mesmo gestos eu conseguia fazer. Então como não vi
outra saída, chorei... Descobri ai, que isto eu fazia muito bem. As vozes
aumentaram e o movimento também. Logo aquela pessoa que me amava, colocou em
minha boca, parte de seu corpo, onde escorria um líquido quentinho e saboroso,
suguei-o e o líquido saiu com abundância. Experimentei e gostei. Este foi o meu
alimento, por várias e várias claridades.
E lá estava eu, quieto, submisso, e,
chorão.Com o decorrer das claridades, fui acostumando-me com tudo a minha
volta: as pessoas, objetos, vozes, carinhos etc...
Tentando movimentar-me em exercícios
constantes, uma bela manhã, eu senti que se tentasse, conseguiria sentar-me.
Tentei e deu certo, no entanto, a voz não fluía ainda de meus lábios, senão, grunhidos,
que aquela pessoa tão carinhosa, já havia aprendido a decifrar. Pois até aquela
claridade, desde que acordei e tudo era diferente, nunca escureceu e clareou
sem que esta pessoa não estivesse ali do meu lado.
O tempo passou... Um dia, eu consegui
pronunciar um nome. Um nome que em todas as claridades de minha existência,
aquela pessoa, docemente, ao acariciar-me, sussurrava aos meus ouvidos:MAMÃE...
Obrigado MAMÃE por me fazer RAZÃO.
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