A
COVA. (24/03/81)
De uma cova fértil e amadurecida
Símbolo vivo e universal.
Desenvolvendo
rasga-lhe as entranhas,
E
seu conforto procura ter,A Cova sente dores profundas,
Mas, aquenta viva, para fazê-lo viver.
Cresce
ainda, e já se meche,
Empurra
os pés tentando estourar,A bolha d’água que é seu leito,
E a razão do seu germinar,
O
tempo passa e lá está ele,
Na
escura bolha a se recompor,A Cova quer decididamente,
Que ele nasça para dar-lhe amor.
A
Cova sente fortes contrações.
Rompe-se
a bolha eis o despontar,Abrem-se as portas de uma nova vida
Apontam as mãozinhas querendo apalpar.
No
entanto, estranha o pequeno ser,
O
lugar seco onde foi cair,Esperando afeto, recebe palmada,
Começa a chorar ao invés de rir.
Sua
Cova o quer no colo
Para
com carícias dar-lhe amorJá se esquecendo de que em minutos antes,
Ao dar-lhe a vida quase morreu de dor.
A
Cova segue então a vida,
Para
dar mais vida, a quem fez gerar,Vendo crescer o imóvel curvo,
Dando-lhe seu sangue para alimentar.